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CULTURAS NEGRAS

“Branquitute precisa refletir sobre seu papel no racismo brasileiro”

Publicado: Sexta, 20 de Novembro de 2020, 09h37 | Última atualização em Quarta, 02 de Dezembro de 2020, 15h41

Debate expôs os vários aspectos do racismo e a necessidade de se combatê-lo de forma efetiva

imagem sem descrição.

“Somos todos antirracistas agora?” Com este tema provocador, a mesa-redonda de abertura do IV Encontro de culturas negras e do VI Seminário de educação para as relações étnico-raciais, realizada nesta quinta-feira, 19, à noite, trouxe reflexão e emoção. As professoras do IFG Daniele Gonçalves Dias (Câmpus Formosa) e Paula de Almeida Silva (Câmpus Luziânia) expuseram os vários aspectos do racismo e criticaram o “antirracismo de estampa de camiseta”.

Sob a mediação do jornalista Evaldo Gonçalves Silva (Câmpus Jataí), o debate trouxe à tona uma realidade que não é admitida, mesmo por pessoas que se dizem antirracistas: o rebaixamento das pessoas negras beneficiou e continua beneficiando as pessoas não negras. “A discussão do racismo é sempre colocada na perspectiva do que faz com o negro. Mas não se discute como racismo beneficia os brancos”, criticou Paula.

Segundo ela, antirracismo não se faz com passividade e as pessoas pretas têm de lutar todos os dias para ter sua humanidade reconhecida. Mas é preciso que a branquitude participe, de fato, desse debate. “Somos o outro que não merece estar no mesmo espaço que os não negros. Quando os não negros se colocam no debate mas identificando o negro como o outro, confirmam o falso discurso de que o racismo é um problema dos negros”, afirmou.

Ela apresentou duas categorias da branquitude: a crítica e a acrítica e afirmou que ambas têm em comum a imagem de superioridade de si mesmas. A branquitude crítica é aquela que se diz antirracista, mas nas entrelinhas do discurso e nas ações da vida provada continuam a rebaixar as pessoas negras. Já a branquitude acrítica orgulha-se de ser racista. “O fato é que o racismo é perpetrado pela branquitude que sempre precisa colocar o negro como o outro inferior”, ressaltou.

Escola

Já a professora Daniele falou de sua trajetória como professora e de como o racismo está presente nos processos educacionais. Segundo ela, já na sua formação foi possível perceber o desprezo pela temática e como vários conceitos utilizados por intelectuais negros para analisar o racismo eram vistos como não-científicos.
Mas Daniele contou que descobriu o poder da palavra e que vivencia no projeto Escritoras Negras a experiência de muitas mulheres revisitarem suas próprias histórias. “Compreendemos que às vezes nos faltam palavras para enfrentar a violência racistas”, disse.

Ela apresentou narrativas colhidas dentro das escolas, nas atividades propostas e nas falas de estudantes, que evidenciam o racismo, mas não são vistas como racistas por quem as reproduz. Uma atividade escolar, por exemplo, propôs em comemoração ao mês da consciência negra o seguinte: “Utilizando materiais variados como bombril, macarrão, lã e outros, vamos montar nossa nega maluca”. “E isso não é visto como racismo”, espanta-se.

Segundo ela, inúmeras falas racistas são centradas na questão do cabelo das pessoas negras, contribuindo para a destruição da sua autoestima. “A questão do cabelo é muito dolorida. O negro tem de se fazer forte o tempo todo para conseguir falar, para manter sua existência e sua altivez”, reforçou.

As apresentações das duas professoras foram muito elogiadas pelos participantes, que também teceram comentários e apresentaram questões a elas. O mediador do debate reforçou as “falas potentes, com a força da mulher negra”.

Abertura oficial

A mesa-redonda foi precedida pela abertura oficial do IV Encontro de culturas negras e do VI Seminário de educação para as relações étnico-raciais. Participação da solenidade o reitor do IFG, professor Jerônimo Rodrigues da Silva, o pró-reitor de Extensão, Daniel Silva Barbosa, e o representante da Comissão Organizadora, Neville Julho de Vilasboas e Santos.

Os três reforçaram a importância dos dois eventos, que ocorrem paralelamente e neste ano estão sendo realizado virtualmente. Neville destacou os objetivos propostos: refletir sobre as políticas afirmativas dentro do IFG e promover o reconhecimento das diferentes manifestações da cultura negra brasileira.

O reitor lembrou que 83% dos alunos do IFG se autodeclaram pretos ou pardos e falou da importância do enfrentamento aos ataques racistas. “O objetivo é coibir, invisibilizar a luta pela igualdade étnico-racial”, alertou.

Já Daniel Barbosa lembrou que pretos e periféricos estão a tombar a todo instante e que vidas negras importam para o IFG, seja dentro da Instituição ou fora dela. “Temos de assumir o nosso papel e efetivamente não ser racista e ser antirracista”, afirmou.

Programação

Nesta sexta-feira, Dia Nacional da Consciência Negra, serão apresentados os trabalhos selecionados para o VI Seminário de educação para as relações étnico-raciais. Três grupos de trabalhos foram formados para a exposição dos conteúdos, que vão de relatos de experiências a comunicações tratando das questões africanas e da afrodescendência, de raça, antirracista e da diversidade étnico-racial.
A partir das 9 horas, serão apresentados os trabalhos do GT1, com transmissão pelo link https://youtu.be/GMNeygsLXqY. A partir das 14 horas, haverá a exposição de trabalhos do GT2, com transmissão pelo link https://youtu.be/HlBwtviKJwc. À noite, a partir das 19 horas, serão apresentados os trabalhos do GT3 e a transmissão será feita pelo link https://youtu.be/MbiFV3i0qKs

 

Assista à íntegra da mesa-redonda “Somos todos antirracista agora?” 

 

Diretoria de Comunicação Social/Reitoria.

 

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