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Gestão

“Continuem lutando por essa educação pública de qualidade e socialmente referendada”

Publicado: Sexta, 08 de Outubro de 2021, 23h45 | Última atualização em Sexta, 08 de Outubro de 2021, 23h45

Ao encerrar seu segundo mandato como diretora-geral do IFG - Câmpus Aparecida de Goiânia, a professora Ana Lucia Siqueira de Oliveira fala em entrevista sobre os desafios do trabalho realizado, dificuldades, crescimento e motivação

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A professora Ana Lucia Siqueira de Oliveira encerrou nesta sexta-feira, 8 de outubro, o seu segundo mandato na Direção-Geral do Câmpus Aparecida de Goiânia do Instituto Federal de Goiás (IFG). Graduada em Artes Visuais e Mestre em Cultura Visual, ela ingressou no IFG como docente em 2008, no Câmpus Goiânia, e foi nomeada em 2011 para a direção do Câmpus Aparecida de Goiânia, alguns meses antes da inauguração da unidade, em 2012, tendo sido eleita para o segundo mandato em 2017.

Em entrevista concedida à Coordenação de Comunicação Social do IFG Aparecida, Ana Lucia fala dos desafios enfrentados e do aprendizado que leva a partir da experiência de trabalho e das relações interpessoais. “Você perceber que com o seu trabalho dentro de uma instituição pública com uma qualidade social enorme você transforma a vida das pessoas, você transforma a sociedade. Isso é o que mais me motivou”, afirmou a diretora. Ela fala da condição de mulher na sociedade brasileira e em um cargo de gestão e aponta as questões orçamentárias nos últimos anos da gestão no IFG Aparecida como a principal dificuldade enfrentada.

Ana Lucia havia se despedido da Comunidade Acadêmica na reunião de abertura da Semana de Planejamento 2021/2, realizada no dia 29 de setembro, e, nesta entrevista, ela apresenta a alunos e servidores o pedido de que continuem lutando pela “educação pública, de qualidade e socialmente referendada”. O novo diretor-geral eleito do Câmpus Aparecida de Goiânia do IFG, professor Eduardo de Carvalho Rezende, assume o cargo na próxima semana, na data de publicação de sua nomeação no Diário Oficial da União.

 

Confira aqui a entrevista com a diretora-geral Ana Lucia Siqueira de Oliveira:

 

Como foi para você assumir a gestão de um Câmpus que estava nascendo na centenária estrutura da Rede Federal de Educação Profissional, Científica e Tecnológica?

Assumir a gestão do câmpus que estava nascendo em 2011, eu considero que foi um ato de coragem e ousadia. Não uma coragem e uma ousadia só minhas, mas da gestão daquela época, que entendeu que era urgente que o câmpus começasse a funcionar na cidade de Aparecida. Para mim, foi o maior desafio profissional. Eu já tinha alguma experiência em gestão, mas não como diretora-geral. E foi um grande aprendizado e uma grande conquista, não só pessoal, mas para toda a comunidade da cidade de Aparecida de Goiânia.

 

Quais foram os principais desafios enfrentados e vencidos nesses dez anos de gestão?

Eu considero que o maior desafio enfrentado na gestão do Câmpus Aparecida de Goiânia foi administrar as diferentes áreas que compõem a heterogeneidade do câmpus, com as diferentes expectativas, com todas as dificuldades de infraestrutura que nós tínhamos que colocar pra funcionar. Nós tínhamos que minimamente viabilizar os espaços de maneira adequada pra que as áreas pudessem trabalhar e eu acho que esse foi e ainda é um dos maiores desafios do Câmpus Aparecida.

 

E quais foram as principais dificuldades?

A principal dificuldade na gestão do Câmpus Aparecida foi sem dúvida a questão orçamentária. Nós iniciamos em 2012 numa condição de governo federal muito favorável à criação e ampliação dos institutos federais e, lamentavelmente, isso foi se esvaindo. A questão orçamentária de manutenção do câmpus e consolidação de todas as áreas, de todos os cursos, com laboratórios, com pessoal, com insumos, foi – e ainda será para a nova gestão – o maior desafio, a maior dificuldade. Hoje, a gente está, no âmbito do governo federal, com um repasse muito aquém do que o câmpus necessita para minimamente ser consolidado. Apesar de já estarmos perto dos dez anos de funcionamento, eu considero que o câmpus não foi consolidado, lamentavelmente, por uma questão orçamentária, de falta de recurso financeiro para compra de equipamentos, para compra de insumos, para que o câmpus pudesse estar de fato minimamente pronto pra atender todas as áreas que nele coexistem.

 

Ser mulher representou algum diferencial para o seu trabalho na gestão do câmpus?

Ser mulher no Brasil é um grande desafio. E ser mulher na gestão de uma instituição é um desafio redobrado. Claro que eu sofri episódios de misoginia, que é cultural, lamentavelmente, dentro da nossa sociedade, mas, ao mesmo tempo, também fui muito respeitada, tive muito apoio de muitas mulheres e talvez esse tenha sido o grande diferencial da gestão, que foi uma gestão a mais humanizada possível, a mais acolhedora possível, sempre com muita responsabilidade, com muito respeito, com muito carinho por toda aquela comunidade, por todo aquele espaço. Ser mulher no Brasil envolve situações complexas, mas eu acho que mulheres ocupando espaços de poder acabam se tornando referência para que outras mulheres também ocupem esses espaços. Então, eu espero que algumas meninas, alunas, ex-alunas possam ter visto neste lugar que eu estive, que elas também podem chegar lá, que elas também têm possibilidade e competência para chegar onde elas queiram estar. Porque é isso: a mulher precisa ocupar esses espaços de poder para que elas possam também lutar pelos direitos das outras mulheres e da comunidade em geral.

 

Em muitos de seus pronunciamentos, você falou da diversidade do Câmpus Aparecida de Goiânia. Como foi o processo para se chegar a essa variedade nas áreas dos cursos e o que você vislumbra nessa convergência para o IFG e para a sociedade?

O Câmpus Aparecida de Goiânia nasceu num momento em que a Instituição estava finalizando o PDI (2012-2016), no final de 2011. Eu, como gestora, participei muito pouco das discussões de criação do câmpus. A gestão daquela época já tinha o desenho do Câmpus Aparecida, já reconhecia o contexto em que o câmpus estava inserido, em termos de ser a segunda maior cidade do estado em número de habitantes, com uma grande população carente, que necessitava de uma instituição que fosse grande. E ele foi idealizado com vários eixos, para que esses eixos pudessem se verticalizar, que pudéssemos aumentar o número de alunos e crescer cada vez mais. A população de Aparecida de Goiânia merecia e merece uma instituição como essa, com a grandeza e as oportunidades que o Instituto Federal traz para as comunidades nas quais ele está inserido. Então, o Câmpus Aparecida de Goiânia veio com essa diversidade de eixos tecnológicos e isso se constitui, como eu disse anteriormente, o nosso maior desafio de verticalização. Neste momento, o câmpus se encontra num processo amplo de discussão com o Plano de Oferta de Cursos e Vagas, para que esse crescimento e essa verticalização aconteçam da melhor forma possível, observando todas as áreas e todos os cursos. Foram um dificultador para o crescimento do câmpus, principalmente ao longo de 2014, 2015 pra cá, as dificuldades orçamentárias e dificuldade de contratação de pessoal, que fizeram com que o câmpus sofresse um impacto muito grande. Com o golpe de 2016, houve uma desestruturação da rede federal e uma apatia por parte dos gestores para o fortalecimento e consolidação dos câmpus e da Rede Federal. Isso ficou tudo muito estagnado, muito parado, e continua até hoje. Às vezes nos discursos das autoridades, aparece a Rede Federal como a menina dos olhos, com muita potencialidade, mas o discurso não reflete na prática, no apoio efetivo em investimentos financeiros para viabilizar o funcionamento dos câmpus com aporte de pessoal, tanto técnico-administrativo como docente, para que a Rede de fato possa crescer, para que os câmpus possam ampliar seu número de vagas. O que tem acontecido, lamentavelmente, é quase que um sucateamento dos câmpus e uma desvalorização do trabalho do servidor público.

 

Destes 10 anos, quais são os momentos que mais farão você se recordar de seu trabalho como diretora-geral do IFG Aparecida?

Desses dez anos de gestão, o que mais fica e vai ficar na minha memória são as trocas. Todo o aprendizado, as relações interpessoais, você perceber que com o seu trabalho dentro de uma instituição pública com uma qualidade social enorme você transforma a vida das pessoas, você transforma a sociedade. Isso é o que mais me motivou e é o que faz com que eu saia da gestão sabendo, evidentemente, que eu não fiz tudo, mas eu fiz o melhor que eu pude, fiz tudo o que estava ao meu alcance. As trocas, os afetos, as amizades, a relação com os alunos, com a comunidade em geral, os servidores docentes, técnicos administrativos, os servidores terceirizados, eu acho que o ambiente organizacional do Câmpus Aparecida é um diferencial para o trabalho de todos aqueles que ali convivem. Isso é uma coisa que não é tranquila de se conquistar e, felizmente, no Câmpus Aparecida a gente conseguiu conquistar isso. Eu vejo nos colegas o prazer de atuar naquele câmpus, de estar ali quase como uma grande família mesmo. Então, é isso que eu vou lembrar sempre com muito carinho e vou levar pra sempre no meu coração.

 

Que mensagem você gostaria de deixar para a comunidade acadêmica do Câmpus Aparecida de Goiânia e para o futuro desta unidade da Instituição?

A mensagem que eu quero deixar para a comunidade, é que ela se uma em prol do crescimento do câmpus, da ampliação do número de vagas, da ampliação do número de cursos, porque o nosso câmpus tem muito potencial, é um câmpus que está localizado numa região muito importante do estado de Goiás, na região metropolitana. Isso não é pouco e faz com que o câmpus se destaque inclusive no cenário do estado. Que nossos colegas servidores e alunos continuem lutando por essa educação pública de qualidade e socialmente referendada: é disso que o país precisa, é disso que cada um de nós cidadãos precisamos, o apoio e a valorização da educação.  Como diz Paulo Freire, a educação não muda o mundo, mas ela transforma as pessoas e as pessoas vão transformar o mundo. Essa é a mensagem que eu tenho e é por isso que eu me sinto motivada em trabalhar numa instituição como o IFG. Muito obrigada e um beijo para todos.

 

Coordenação de Comunicação Social e Eventos / Câmpus Aparecida de Goiânia

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