Projeto Meninas Cientistas promove a formação de pesquisadoras e o combate à violência contra crianças e adolescentes
Oficinas trazem novas perspectivas para meninas em situação de vulnerabilidade social por meio da educação e da ciência
De quinze em quinze dias, quem anda pelos prédios do Câmpus Uruaçu pode perceber alguns rostos novos utilizando os laboratórios e salas de aula da instituição - são as 60 meninas que participam dos encontros quinzenais do projeto Meninas Cientistas: a Construção Feminina do Saber. O projeto, que foi selecionado em edital do CNPq, é coordenado pelas professoras Renatha Cruz e Lidiaine Santos. Teve início em janeiro deste ano e, segundo Renatha Cruz, já começou a mostrar "o potencial que essas meninas possuem em diversas áreas, em especial entre as ciências exatas, como a química, engenharias e computação".
Na última quarta-feira, 15, as meninas tiveram a oportunidade de participar da roda de conversa Mulheres na Ciência, que convidou três pesquisadoras a relatarem as suas experiências no meio científico. A atividade foi encerramento do primeiro módulo do projeto, em que as estudantes realizaram experimentos nos laboratórios e conheceram mais sobre as disciplinas e o trabalho dos profissionais.
"No encerramento de cada módulo de oficina, que tem duração de três meses, nós fazemos essa roda de conversa com pesquisadoras da área", conta Renatha, "para motivar as meninas a seguirem carreiras nos campos estudados no projeto".
A coordenação do Meninas Cientistas também teve reunião no fim de Abril com o CNPq, em Brasília, para apresentar os seus primeiros resultados. Participaram da reunião as coordenadoras dos outros cinco projetos da região Centro-Oeste selecionados pelo edital CNPq/MCTIC, Meninas nas Ciências Exatas, Engenharias e Computação, da UnB, UFG, UNIFEI, IFMS e UNEMAT.
"O projeto está nas suas primeiras etapas, então foi muito bom ouvir os relatos das outras coordenadoras sobre as suas ações, nos outros locais", explica Renatha. A professora ainda revela que "percebemos que a nossa proposta é a maior no Centro-Oeste, já que nós atendemos 60 estudantes e, pensando toda a equipe, somos 85, enquanto os demais projetos trabalham com 20 participantes, aproximadamente".
Equipe
O projeto conta com 60 alunas de ensino médio e fundamental, selecionadas de três instituições de ensino de Uruaçu. As escolas selecionadas foram o Centro de Atendimento Educacional Especializado Herbert José de Souza - CAEE Betinho, a Escola Municipal Eneas Fernandes de Carvalho e o Colégio Estadual Joana D'arc.
Além das alunas, cada escola é representada por uma professora, que participa de todas as atividades e reuniões de planejamento das ações. "As professoras estão aqui [no câmpus] toda semana para ajudar a pensar as metodologias, materiais didáticos e auxiliar na linguagem para tratar essas estudantes", explica Renatha, ressaltando que os resultados obtidos com as metodologias empregadas são dados importantes de pesquisa.
A professora ainda lembra que outra parte fundamental do projeto são as alunas de graduação do próprio IFG, que atuam como monitoras e professoras no projeto. Segundo Renatha, enquanto auxiliam no andamento das atividades, elas passam pelo seu próprio processo de aprendizado. "Elas aprendem a produzir o material pedagógico, didática, organização de oficinas e recursos didáticos", esclarece.
Para a estudante do 5º período de Engenharia Civil e colaboradora do Meninas Cientistas, Bárbara Carangi, 20 anos, a interação e a proximidade com a comunidade é um dos pontos que mais a motivam com o projeto. "Acredito que estamos fazendo uma coisa boa ao interagir com a comunidade e mostrar que o IFG está de portas abertas para essas meninas, que elas têm o direito de estar aqui, como escola pública e que serve à comunidade", comenta Bárbara.
Editais
A coordenadora pedagógica do Meninas Cientistas lembra que, antes da aprovação do projeto no edital do CNPq, sua equipe foi formada para a realização da pesquisa, cadastrada no câmpus, Meninas Cientistas: diagnóstico dos caminhos para a autonomia e emancipação das mulheres de Uruaçu. Nessa primeira experiência, segundo a professora, foi estabelecido o primeiro compromisso da equipe com as famílias de alunas da Escola Eneas Fernandes.
"Parte daquelas famílias dependem da coleta e venda de materiais do lixão de Uruaçu para sobreviver", revela Renatha. "Nós recebemos a demanda dos próprios pais, que passam o dia inteiro trabalhando e têm de deixar as filhas sem nenhuma atividade durante a tarde", recorda a professora, que, a partir disso, se dedicou a elaborar ações que ocupassem aquelas meninas e que pudessem lhes dar uma nova perspectiva de futuro profissional.
Hoje, após a reelaboração do projeto e aprovação no edital do CNPq, em dezembro, o perfil das estudantes atendidas pelo Meninas Cientistas passa por jovens quilombolas, moradoras da zona rural, alunas com necessidades especiais e jovens em situação de vulnerabilidade social. "O que queremos", defende Renatha, "é ajudar as meninas a perceberem seu potencial e enfrentar a violência de gênero a partir da educação".
Mas as conquistas do Meninas Cientistas não param por aí. O projeto foi avaliado em terceiro lugar no edital de fomento às ações de extensão do IFG, entre as 105 propostas de todos os câmpus da Instituição e teve resultado publicado em maio. A maior parte do recurso obtido é destinado ao pagamento de bolsas das colaboradoras dos cursos técnicos.
Também no mês de maio, o projeto foi aprovado no Edital do Conselho Municipal da Criança e do Adolescente do Município de Uruaçu. Os recursos obtidos serão destinados para as ações do projeto que potencializem o combate à violência de gênero contra a criança e adolescente.
"Sem os editais seria inviável realizar a proposta", declara Renatha. "Os gastos são com transporte, alimentação, materiais, como produtos químicos e outros itens de laboratório que a Instituição não consegue adquirir na totalidade", aponta a professora, e complementa que "os editais permitem essas ações de enfrentamento à violência - sem eles, ficaríamos apenas na ideia".
As atividades do projeto Meninas Cientistas vão até julho de 2020.
Coordenação de Comunicação Social/Câmpus Uruaçu.
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