Projeto do Câmpus Goiânia capacita mulheres em situação de vulnerabilidade socioeconômica
Curso de extensão busca empoderar mulheres atendidas pela Secretaria Municipal de Políticas para Mulheres da Prefeitura de Goiânia
Kamila Vidal tem 37 anos. Dos 11 aos 32, viveu nas ruas e passou por diversas situações de risco e vulnerabilidade. Há quatro anos ela tenta recomeçar sua vida e, por meio do auxílio de instituições como a Secretaria Municipal de Políticas para Mulheres da Prefeitura de Goiânia, aos 37 anos ela chegou ao curso de extensão Alimentação, trabalho e dignidade: gerando alternativas de emprego e renda para mulheres em situação de vulnerabilidade em Goiânia a partir de saberes e sabores ofertado pelo Câmpus Goiânia do Instituto Federal de Goiás (IFG). O projeto procura resgatar a dignidade de mulheres como Kamila que buscam se restabelecer por meio de uma capacitação profissional.
Idealizado pela coordenadora do curso técnico integrado ao ensino médio em Cozinha, na modalidade educação para jovens e adultos (EJA) do Câmpus Goiânia, a professora Gisélia Lima Carvalho, o projeto de extensão oferece aulas que abordam técnicas de atendimento, procedimentos operacionais de higiene e segurança alimentar, elaboração de produtos alimentares com custos acessíveis e empreendedorismo a mulheres que se encontram em situação de vulnerabilidade socioeconômica. A turma, composta por mais de 20 alunas, foi formada por meio de triagem realizada pela instituição parceria do projeto, a Secretaria de Políticas para Mulheres do município, que realiza o trabalho de assistência e acolhimento com esse público.
Segundo Gisélia, a ideia é promover o empoderamento dessas mulheres por meio da capacitação para o setor de alimentação, que ganha destaque por ser um dos responsáveis por acobertar demandas geradas pela falta de emprego. Segundo dados recentes do Sebrae, 171,2 mil microempreendedores individuais atuam nesse setor em todo o Brasil, pois se configura como uma forma de renda e emprego para famílias nas grandes cidades. “O objetivo desse curso foi apontar caminho em busca de direitos constitucionais que garantam mínimas condições de qualidade de vida, de empoderamento e de liberdade de ir e vir para as mulheres em situação de risco, mesmo que seja em escala local”, acrescenta a docente.
O curso de extensão nasceu da vontade de ampliar as possibilidades ofertadas pelo IFG a uma parcela que mais precisa de capacitação e, muitas das vezes, mal chega a procurar a instituição. “No primeiro dia que a gente recebeu essas mulheres, a gente percebeu mulheres ainda muito inseguras, que nunca entraram na instituição, 80% delas já tinham escutado o nome do IFG mas achavam que esse espaço não era para elas. A gente fez uma recepção muito calorosa, mostramos o que é o IFG, o que de possibilidade elas podem ter aqui. No primeiro dia, algumas já se inscreveram no curso EJA de Cozinha, outras se inscreveram para o processo seletivo do semestre seguinte. Elas começaram a perceber que aqui tem um mundo de possibilidades não só para elas, mas para toda a família também”, acrescenta Gisélia.
Essa vontade de continuar crescendo e ir além da capacitação, que tem duração de cinco meses, já nasceu em Kamila. “No decorrer do curso, descobri que aqui tem o EJA no ensino médio e alguns cursos que você pode fazer junto com o EJA. Isso me motivou bastante. Porque no meu pensamento era assim: eu vou terminar o ensino fundamental, vou arrumar qualquer empreguinho aí. Só que foi me dando motivação, senti vontade”, conta.
Na sua trajetória de reconstrução, ela já consegue suprir algumas necessidades financeiras, como a compra de medicamentos, graças ao trabalho que aprende no curso de extensão do Câmpus Goiânia. “No curso, fui aprendendo a fazer brigadeiro, beijinho, bolo de pote, cremosinho, hoje aprendi a fazer o cajuzinho e estou usando isso como uma renda para mim. Mesmo que eu venda isso a R$ 1, R$ 2, isso já dá o custo da minha medicação. O IFG, para mim, foi mais que oportunidade, sabe?”, acrescenta a aluna.
Além de Kamila, a venezuelana Lauris Barrera Cruz, que veio para Goiânia atrás de estabilidade econômica, também viu no curso de extensão uma oportunidade de crescimento. “Aqui aprendi técnicas, por exemplo, higienização e manipulação de alimentos. Agora eu quero me profissionalizar, fazer um curso de confeitaria, de chocolataria. Já estou trabalhando com encomendas e quero agregar mais conhecimento nessa área”, planeja.
Para a carioca Raquel Theodoro, o curso tem mostrado potencialidades que ela mesma desconhecia. “Esse curso foi um divisor de águas na minha vida, me deu oportunidade de me sentir digna de saber que eu posso chegar a algum lugar. Mesmo eu não tendo muita afinidade com cozinha, saber que eu posso produzir alguma coisa para bancar renda é muito bom e te dá uma liberdade, uma independência para você continuar estudando”, conclui.
O curso
O projeto de extensão Alimentação, trabalho e dignidade: gerando alternativas de emprego e renda para mulheres em situação de vulnerabilidade em Goiânia a partir de saberes e sabores é um desdobramento da pesquisa realizada pela professora Gisélia em seu doutorado, que trata sobre o mercado de trabalho para o setor de Turismo e Hospitalidade em Goiás. “Uma das intenções do projeto seria que a gente propusesse alternativas de como melhorar a qualidade do emprego. A gente já faz isso ofertando o curso de EJA, de ensino médio técnico. Como esse curso acaba sendo muito restrito, pensei em propor ações de capacitação mais rápidas, que pudessem atender grupos mais vulneráveis que não precisariam de uma seleção, que precisariam de uma formação mais urgente”, explica a docente.
Parceira da iniciativa, a Secretaria Municipal de Políticas para Mulheres da Prefeitura de Goiânia acompanha de perto as alunas, que vão demonstrando empoderamento e crescimento com a capacitação profissional. “Várias mulheres nos procuraram com o curso em andamento elogiando a instituição de ensino. Muitas delas querem permanecer na instituição fazendo outros cursos, muitas delas disseram que vão fazer o EJA e isso demonstra a nossa grande satisfação, porque nós queríamos que esse curso fosse uma semente plantada para que elas alçassem voos ainda maiores na vida profissional”, ressalta a diretora de execução de políticas para as mulheres, Ludmilla Daher.
A diretora explica que a vulnerabilidade socioeconômica abre portas para outras situações de risco, como a violência doméstica. Por isso, Ludmilla vê a capacitação profissional ofertada pelo Câmpus Goiânia como uma forma de reforçar o empoderamento feminino. “Primeiro porque ela vai sair da condição de vulnerabilidade socioeconômica, que ela possa passar, e depois, se ela sofre algum tipo de violência, através da qualificação profissional, do empreendedorismo, da sua colocação do mercado de trabalho, ela pode quebrar esse ciclo de violência”, completa.
Além da professora Gisélia, os módulos contam com a participação do seguinte corpo docente: Luciana de Oliveira e Poliana Cristina Mendonça (Procedimentos operacionais básicos e de higiene e segurança alimentar); Gleice Alves de Sousa e Lisandra Lavoura Carvalho Passos (Qualidade no atendimento a clientes); Alcyr Alves Vianna Neto, Selena Carvalho Martins e Rebeca Elster Rubim (Elaboração de produtos básicos culinários); e Sandra Santos Faria (empreendedorismo no setor de alimentos aplicado a pequenos negócios).
As aulas do curso são realizadas às terças e quintas-feiras, das 14 às 18 horas. Participam do projeto alunos do curso técnico em Cozinha e uma egressa do curso de Bacharelado em Turismo do Câmpus Goiânia. O projeto de extensão tem previsão término no início de dezembro.
Coordenação de Comunicação Social do Câmpus Goiânia
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