Meninas negras enfrentaram maior dificuldade escolar durante a pandemia
Pesquisa de egressa do Ensino Médio levou em conta classe, além de gênero e raça
Negra, jovem e mulher: assim se descreveu a aluna egressa do curso Técnico Integrado ao Ensino Médio em Saneamento do Câmpus Formosa do IFG, Ketlen Miranda de Jesus Costa, ao relembrar as dificuldades encontradas no Ensino Médio, durante o período pandêmico de Covid-19. Mas será que questões de gênero, raça e classe interferiram na vida escolar de meninas brasileiras durante a pandemia? Esta foi a pergunta que a própria Ketlen fez para si mesma, nos idos de 2021, e que a motivou a participar do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica no Ensino Médio (Pibic-EM).
A experiência da estudante durante o ensino remoto, época em que fazia o Ensino Médio, foi desgastante. Conforme conta, “durante a pandemia foi bem complicado, eu precisava estudar, ajudar com os afazeres domésticos, ajudar a cuidar do meu irmão mais novo”, relatou. Além disso, também havia as inquietações típicas da idade, como passar no vestibular: “Aí vinham muitas preocupações, o medo que a pandemia causou nas pessoas. Então tinha que lidar com tudo e isso dificultou muito o meu Ensino Médio”.
Ao olhar para o lado, Ketlen também enxergava as mesmas angústias em suas colegas. Segundo ela, a pergunta feita a si se solidificou com a observação da vida escolar de colegas naquele período. Elas também enfrentavam empecilhos para estudar. "Por serem meninas, têm dificuldade relacionada principalmente ao cuidado do lar. As meninas são sempre direcionadas a ter mais cuidado com as coisas de casa", justificou, apontando o fator tarefas domésticas como o maior obstáculo. “Muitas vezes a gente estava na aula, mas aí precisava levar o computador para a cozinha para ter que fazer o almoço rapidinho para a família, ter que lavar a louça, arrumar a casa enquanto a aula passava”, relembrou. “E a responsabilidade caía totalmente mais sobre as meninas”, afirmou.
Estudos mostram que a probabilidade de crianças e adolescentes fazerem mais trabalhos domésticos aumenta quando eles não vão à escola. E isso fica ainda mais acentuado quando se trata de meninas. De acordo com pesquisa da Plan International Brasil, organização humanitária, não-governamental e sem fins lucrativos, que atua em diversos países, "a distribuição de tarefas ou dos afazeres domésticos entre meninas/adolescentes e meninos/adolescentes revela uma gritante desigualdade de gênero no espaço doméstico", onde "81,4% das meninas arrumam sua própria cama, 76,8% lavam louça e 65,6% limpam a casa". A discrepância aumenta quando as meninas são negras e cujas famílias enfrentam dificuldades econômicas.
Pesquisa
O estudo "Os impactos da pandemia de Covid-19 na vida escolar de meninas no Brasil: fatores históricos e sociais que interccionam classe, gênero e raça", sob orientação da professora Kaithy das Chagas Oliveira, foi feito mediante levantamento bibliográfico. "Como comecei meu projeto na pandemia, ficava totalmente inviável fazer pesquisa de campo”, justificou. O resultado apontou a necessidade de implementar projetos para solucionar o retrocesso educacional, com foco principalmente nas adolescentes, “que foram as mais prejudicadas educacionalmente e socialmente”.
Sobre a participação em um programa institucional de fomento à pesquisa, para ela, “é uma experiência incrível”. “Não me arrependo de ter feito. Estando no ensino superior, pretendo fazer de novo. Você atribui muito conhecimento intelectual, conta no seu currículo e abre muitas portas para você”. A jovem entende a ciência como aliada. “A pesquisa, em si, responde muitas dúvidas da sociedade. Para isso, é necessário que mais estudantes se disponham a ser pesquisadores”, enfatizou. Seu trabalho foi premiado em primeiro lugar na categoria Pibic-EM, no 9º Seminário de Iniciação Científica e Tecnológica (SICT) Local, em 2022, voltado à apresentação das pesquisas do Câmpus à comunidade formosense.
Tem Ciência no IFG!
Ketlen Miranda de Jesus Costa é, atualmente, aluna do curso superior de Tecnologia em Análise e Desenvolvimento de Sistemas (TADS) do Câmpus Formosa do IFG. Ela foi a sétima participante do projeto Tem Ciência no IFG!, promovido pela Coordenação de Comunicação Social e Gerência de Pesquisa, Pós-Graduação e Extensão (Gepex), de maio a julho deste ano. “Participar deste projeto [de pesquisa] foi uma experiência enriquecedora e me fez perceber a importância da pesquisa para o meu crescimento intelectual e, principalmente como mulher, jovem e negra”, reforçou.
--> Assista ao episódio com a Ketlen, da série Tem Ciência no IFG!, no canal do YouTube IFG-Câmpus Formosa: https://www.youtube.com/watch?v=FN7u2kLVV_0
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Coordenação de Comunicação Social/Câmpus Formosa
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