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“Não devemos trabalhar só com os melhores (...) e nem desistir diante das dificuldades”

Publicado: Quinta, 18 de Outubro de 2018, 15h34 | Última atualização em Quinta, 01 de Novembro de 2018, 11h14

Com essa mensagem de igualdade, persistência e oportunidade a cientista Joana Félix palestrou diante de um auditório lotado

Joana venceu obstáculos, preconceitos e racismo, e hoje é mundialmente conhecida
Joana venceu obstáculos, preconceitos e racismo, e hoje é mundialmente conhecida

 

É difícil encontrar um adjetivo que melhor defina quem é Joana D’Arc Félix de Sousa. A trajetória de vida da professora impressiona, emociona e inspira a todos que têm a grata oportunidade de ouvi-la. Joana é um exemplo vivo de como a determinação e persistência podem transformar a vida de qualquer pessoa, principalmente se a transformação estiver aliada à educação.

Filha de pais semianalfabetos, Joana e seus irmãos viveram uma infância pobre e sofreram humilhações, principalmente pelo fato de serem negros, pobres e morarem numa área de curtume, local onde o pai dela exerceu a profissão por 40 anos. Na escola, ela chegou a ouvir que pessoas como ela “nunca seriam nada na vida”. E mesmo diante de todo o preconceito e racismo, a profa. Joana sempre ouvia do sábio pai o incentivo de permanecer nos estudos, pois só assim ela “seria alguém na vida”. E foi.

Joana ingressou no ensino fundamental aos quatro anos e depois, decidida a trabalhar no curtume (já que essa era a referência da profissão de químico para ela) foi aprovada em primeiro lugar no vestibular da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), onde se graduou aos 17, ingressou no mestrado aos 19 e na sequência cursou doutorado. Muita determinada e focada mudou-se para os EUA e foi morar na Carolina do Sul (berço da Ku Klux Kan), estado onde novamente foi vítima do racismo. Era um “preconceito forte, parece doença que passa de pai pra filho”, comentou a docente sobre a época em que morou fora. Mas nada disso a tirou do caminho dos estudos, e Joana Félix obteve o título de pós-doutora em Química pela Universidade de Harward, uma das mais prestigiadas do mundo.


No próximo mês a professora Joana Félix irá discursar na Organização das Nações Unidas (ONU).


Pesquisas e prêmios
De volta ao Brasil, Joana teve a oportunidade de trabalhar na Escola Técnica Estadual (ETEC) Prof. Carmelino Corrêa Júnior da periferia de Franca (SP), sua cidade natal. Ela então se deparou com uma realidade desanimadora: alunos desinteressados, indisciplinados, com baixa autoestima e muitos deles envolvidos com tráfico e prostituição. Ao lamentar a situação para seu orientador do pós-doutorado, ouviu algo mais ou menos assim: “Mude a realidade da escola que você está. Faça essa escola ser conhecida no mundo todo”. E assim ela fez.

 Claro que não foi um começo fácil. Joana precisou repensar a forma de ministrar aula, para tornar as atividades interessantes e prazerosas; desconstruindo o conceito de que a matéria de química era “chata”, como diziam os alunos. Depois de muita persistência, trabalho e estratégias, Joana venceu mais uma vez. E mesmo não dispondo de um laboratório moderno e bem equipado, ela conseguiu diminuir a evasão escolar e despertar o interesse dos alunos para a ciência. Hoje, seus esforços resultam em 20 projetos de pesquisa, 15 patentes nacionais e internacionais, 50 palestras ministradas pelo Brasil e exterior e 99 prêmios nacionais e internacionais conquistados. Os alunos da profa. Joana deram continuidade aos estudos no ensino superior, na área da química, e alguns até recebem royalties pelas pesquisas desenvolvidas.

Dos inúmeros projetos que desenvolveram, estão vestidos de noiva para uma grife italiana, bolsas confeccionadas a partir de bucho bovino e vendidas por cerca de R$ 20 mil em shoppings de São Paulo, calçado e vestuários para o tratamento de doenças, uniformes de bombeiros capazes de resistir à penetração de líquidos contaminantes e tochas de fogo (trabalho que lhe rendeu um convite para ir até a Nasa - agência espacial americana), pele sintética e muitos outros.


Poder da Educação
De todas essas conquistas e vitórias, Joana diz que seus maiores prêmios são em relação à transformação social que ela conseguiu por meio da educação. “Não estou fazendo nada além da minha obrigação como educadora”, afirma a cientista que ressalta sempre ter feito questão de trabalhar com aqueles que foram excluídos pela sociedade. Para ela, não importa onde você se formou, o papel do professor é motivar os alunos, dar oportunidade a todos e não só aos melhores, exercer a profissão com ou sem os laboratórios e equipamentos necessários, e motivar os estudantes a jamais desistir diante dos obstáculos. “Motive quem sofre preconceito a por toda sua capacidade para fora”, ela diz. E jamais desista independente das dificuldades, porque sempre haverá uma “boa oportunidade” aguardando você lá na frente.

Ao final da palestra, encerrada após às 22h horas, ela foi aplaudida de pé, por um auditório cheio. E depois atendeu como muito carinho todos que aguardaram na fila para fazer uma foto com ela e agradecer pela oportunidade de conhecê-la.

 

Alunos, servidores e demais participantes fizeram fila ao final da palestra para tirar uma foto com a cientista
Alunos, servidores e demais participantes fizeram fila ao final da palestra para tirar uma foto com a cientista

 


Setor de Comunicação Social e Eventos – Câmpus Itumbiara.

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