Agentes do projeto Envelhecer nos Territórios visitam idosos centenários
O Censo de 2022 apontava que 3 homens e 7 mulheres com mais de 100 anos viviam em Itumbiara. Os agentes do projeto visitaram 4 desses
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Agentes do projeto Envelhecer nos Territórios já realizaram mais de 2.450 visitas aos idosos de Itumbiara e região. Eles têm feito esse mapeamento da população acima dos 60 anos desde janeiro deste ano. Entre as muitas visitas, eles encontraram alguns centenários, homens e mulheres com mais de 100 anos e muitas boas histórias para contar.
Afora a lucidez e simpatia comum a esses idosos, todos os entrevistados para esta notícia desfrutam de boas condições de saúde (apesar da longa idade) e moram com seus familiares. Nos diálogos acolhedores, eles relataram de maneira breve a forma que vivem, as atividades que ainda realizam e como é o dia a dia de quem já viveu mais de 1 século ou mais de 1.200 meses ou mais de 438.000 dias.
Alonso Guerra - 106 anos
O senhor Alonso Guerra, de 106 anos, é um mineiro de Centralina, e nasceu numa família de nove irmãos, tendo até uma irmã mais velha que ele. O simpático idoso conta que tem descendência portuguesa e espanhola, cresceu na roça onde também trabalhou por várias décadas. Esse senhor que se lembra de ter andado a cavalo, presenciar conflitos entre mineiros e goianos, também viu circular pelas ruas da cidade um carro do modelo Ford 29. Morando em Itumbiara desde 2006, Alonso mostrou que preenche a maior parte dos dias dele, literalmente, com muita música. No quarto, fez questão de mostrar a coleção de discos de vinil, CDs, DVDs e fitas cassetes, além dos diversos aparelhos de som, desde uma vitrola, até uma caixa mais moderna com entrada para bluetooth. E todos esses aparelhos é ele quem manuseia sozinho, de forma a prezar por sua independência e privacidade. “A minha vida é isso aí”, diz ele em meio aos discos.
Na conversa, Alonso distribuiu muitos sorrisos e ensinou que um dos segredos para a longa vida, além de ser um dom divino, é manter a alegria, evitar desavenças e ouvir e dançar forró. O entrevistado ainda frisou que não gosta do próprio sobrenome “Guerra” porque remete a fatos ruins, e que ele durante toda a vida ele sempre evitou conflitos, lembrando que só se desentendeu com a falecida esposa uma única vez e que, após ficar envergonhado com a situação, priorizou a harmonia com a ex-companheira até o fim da vida dela.
O senhor Alonso tem certa dificuldade para ver e ouvir, natural da idade, mas isso não o impede de interagir com vizinhos quando vai ao mercado sozinho ou prepara alguma refeição em casa, inclusive torresmo que é a preferência dele. “Se fazer de vítima e ficar encostado isso não é pra mim. Isso não é correto”, enfatizou. Alonso mora na companhia do filho e da nora, que também são idosos, e uma das queixas dos parentes é que quando um dos três precisa ficar hospitalizado, eles não podem se revezar para acompanhar um ao outro porque já têm mais de 60 anos e o hospital proíbe. O fato de receber poucas visitas de outros parentes em casa, também foi mencionado com ligeira tristeza.
Geralda Flauzina- 103 anos
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Uma senhora de 103 anos, de semblante calmo e postura serena, pela negra e cabelos branquinhos, de poucas palavras, mas sempre atenta a tudo e muito apegada às filhas. Essa é a dona Geralda Flauzina de Jesus, uma descendente de pessoas escravizadas que nasceu em Minas Gerais, percorreu algumas cidades de Goiás e atualmente reside em Itumbiara. Apesar de já ter vivido mais de um século, a saúde dela é invejável, umas vez que não tem diabetes, nem problema de visão ou audição nem colesterol. A única exceção é a pressão dela que requer cuidados, mas que está controlada com o uso de medicações.
Dona Geralda não é alfabetizada e durante a vida foi dona de casa e teve uma postura de mãe protetora, carinhosa e apoiadora. Além dos filhos biológicos, essa senhora centenária adotou duas meninas e a filha adotiva que mora com ela conta que a mãe gosta de ouvir forró, não reclama de nada, que é uma pessoa muito grata e positiva e que não fala palavrão. “Sei que um dia eu vou acordar e ela não vai estar mais aqui, mas ela vai deixar um legado, sou muito grata e admiro ela”, afirmou. A filha relatou também que as duas são bastante apegadas e que a mãe é ativa dentro de casa, mas que prefere auxiliá-la em tarefas rotineiras, como tomar banho, para evitar quedas e fraturas. Atualmente dona Geralda se alimenta com comidas mais pastosas, mas que até os 98 anos ainda fazia a própria refeição.
Um dos lamentos e situações que trouxeram grandes desafios para a vida da idosa foi o acidente que provocou a morte de um filho e do esposo dela, quando tinha 54 anos. Apesar dessa tragédia familiar, Geralda manteve uma postura de muita fé e atitude positiva. A filha conta que ela sempre dizia “amanhã será melhor” e que a ensinou a acreditar na superação das dificuldades.
Quando perguntada sobre o segredo para a longevidade, a filha da dona Geralda relata que a mãe é religiosa e atribui a vida longa à fé. Ela, por diversas vezes, mencionou que a mãe é muito amorosa e tranquila e que nunca fez uso de bebida alcoólica e nem refrigerante. E claro, como boa mineira, o prato preferido dela é angu com quiabo e frango.
Domerina Gomes - 100 anos
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Uma paraibana de 100 anos e que mora em Itumbiara cercada por cinco gerações de descendentes. Esta é Domerina Gomes de Andrade, que quando nos recebeu para a entrevista, estava acompanhada em casa pela filha, neta, bisneta, tataraneta e uma pentaneta. Há 56 anos em terras goianas, Domerina é mãe de cinco filhos e veio do Nordeste para o Centro-Oeste do país em um transporte irregular conhecido como “pau de arara”.
Dona de casa e muito vaidosa, ela havia pedido para aguardar para fazer a entrevista e fotos após melhorar a aparência de um hematoma no rosto dela que foi provocado por uma queda. Boa de prosa e independente, ela se veste sozinha, e quando necessita recebe a visita de médicos em casa (para evitar infecções do tipo hospitalares e o desgaste do deslocamento). Dona Domerina é lúcida e bastante simpática e risonha. Também é ativa dentro de casa e se precisar, ainda ajuda a olhar os bisnetos, tataranetos e pentanetos. Às vezes, quando a memória tenta pregar uma peça nela e a faz confundir os cômodos dentro de casa, é com o apoio da tataraneta de três anos que ela se guia pela residência. “De novo, vovó?!” diz a pequena com a mãozinha estendida para a senhorinha.
A família de Domerina relata que atualmente a idosa precisa tomar medicação apenas para controle da pressão e ansiedade, mas que ela não tem diabetes e nem faz uso de óculos; e o que a debilitou mais nos últimos anos foram as quedas. Entre as distrações preferidas para passar o tempo, a centenária confessa que gosta de assistir a programas religiosos e que o fato de ter 100 anos é por conta da vontade de Deus “[Ele] é quem decide a hora”.
Ela, que foi casada duas vezes (ambos faleceram), conta que sente muita saudade das amigas, que gostava de sair para dançar e que ainda hoje se diverte ouvindo um forró (assim como também relatado pelos outros dois idosos entrevistados). Domerina se define como uma pessoa amiga de todos e detalhe: além do privilégio de viver tantos anos, ela praticou o belíssimo ofício de ser parteira e ajudou a trazer à vida inúmeras pessoas, inclusive parentes.
Relatório parcial do Projeto
Até o momento mais de 2.450 visitas foram feitas pelos agentes do curso de “Agente de Direitos Humanos da Pessoa Idosa”, do programa “Envelhecer nos Territórios”, vinculado ao IFG Câmpus Itumbiara. As visitas e cadastros foram realizados inclusive no distrito de Meia Ponte e no acampamento da população cigana. Alguns casos de maus-tratos foram registrados e encaminhados às autoridades municipais, como por exemplo, idosos com dificuldade de locomoção e que moram só, moradia em péssimas condições de higiene, agressões, abuso financeiro, falta de assistência médica, escassez de alimentos, entre outros.
O Programa Envelhecer nos Territórios foi apresentado ao Instituto Federal de Goiás e ao Câmpus Itumbiara como uma parceria com o Ministério dos Direitos Humanos e Cidadania (MDH), em específico a Secretaria dos Direitos Humanos da Pessoa Idosa, sendo um trabalho voltado à formação de pessoas para o trabalho e levantamento de dados no tocante à garantia dos direitos e na identificação de possíveis violências voltados às pessoas idosas no município de Itumbiara.
A partir das entrevistas e dos relatos dos agentes participantes do projeto Envelhecer nos Territórios em Itumbiara, fica nítido o quanto o cuidado e zelo familiar, alimentação mais natural e vida ativa (mesmo apenas com os afazeres domésticos) são fundamentais para que essas pessoas atinjam os 100 anos de vida.
A coordenadora local e responsável pelo projeto no Câmpus Itumbiara, Patrícia Arantes, informou que a previsão é de que o trabalho de visitas finalize agora em abri, mas que o projeto siga até outubro.
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Setor de Comunicação Social e Eventos - Câmpus Itumbiara.
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