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EVENTO

Roda de conversa sobre feminicídio homenageia aluna Ludmilla Flávia Marques

Publicado: Quarta, 11 de Dezembro de 2024, 13h48 | Última atualização em Terça, 17 de Dezembro de 2024, 08h39

Evento, promovido pelas CAPDs e Napne, tem o objetivo de abordar temática que impacta a vida de mulheres e famílias em todo o país

imagem sem descrição.

Estudantes, servidores e trabalhadores terceirizados se reuniram na manhã de hoje na Cinemateca do Câmpus Goiânia para homenagear a estudante de Engenharia Ambiental e Sanitária do Câmpus Goiânia, Ludmilla Flávia Marques, que teve seus sonhos e expectativas interrompidas devido à violência contra a mulher. Durante o encontro, a comunidade acadêmica teve a oportunidade de participar da roda de conversa Precisamos falar sobre feminicídio, que contou com a presença de psicólogas da Ouvidoria da Mulher, da Câmara Municipal de Goiânia. O evento será realizado ao longo do dia, nos períodos vespertino e noturno, para agregar o maior número possível de estudantes e servidores.

Para tratar sobre o assunto, a psicóloga Jaqueline Marques, que é coordenadora do grupo de psicologia do programa Acolha uma Mulher, da Ouvidoria da Mulher, falou sobre a importância de todos estarem atentos e preparados para lidar com possíveis vítimas de violência doméstica. O órgão foi criado em 2013, após a Comissão de Direitos Humanos da Câmara Municipal de Goiânia receber diversas denúncias de assédio sexual, inclusive vividas por menores aprendizes que iniciavam sua vida profissional no legislativo municipal. Em 2021, houve uma reestruturação da Ouvidoria da Mulher, por meio da vereadora Aava Santiago, que retomou os atendimentos à sociedade.

 


Professor Rafael, de língua portuguesa, mediou a roda de conversa que contou com Jaqueline Marques e Noele Costa

 

O órgão, que funciona no estacionamento da Câmara Municipal, recebe denúncias relacionadas a assédio e violência contra a mulher. Segundo a psicóloga Jaqueline Marques, mais de 1,3 mil vítimas receberam, durante o ano, acolhimento e acompanhamento psicológico individualizado, por meio das profissionais de psicologia que atuam lá, muitas de forma voluntária.

“É muito importante, nós mulheres entendermos como essa causa é importante. Você não está sozinha. A gente não está sozinha nunca. A pessoa que sofre essa violência ela pode contar com os órgãos públicos. Muitas vezes a gente pensa ‘ah, vou fazer a denúncia, mas não vou ter respaldo’, mas tem sim”, salienta Jaqueline.

Noele Costa, que é psicóloga e egressa do curso de Hotelaria do Câmpus Goiânia, também atua na Ouvidoria da Mulher e falou sobre o impacto da violência doméstica na vida e formação dos filhos das vítimas desse tipo de agressão. Segundo ela, o Centro-Oeste é a região em que mais há registros de agressão desferida contra o público feminino, incluindo os casos de feminicídio.

Noele explica que, tal constatação pode ser atribuída a questões culturais da região, como o machismo, à submissão e violação dos direitos da mulher. “Não estou falando aqui de política, mas nossa região é muito conservadora. E isso impacta em como a mulher é vista, como posse. Ela não tem direito de querer”, enfatizou. A partir daí, uma série de ciclos violentos são iniciados, às vezes de forma psicológica, verbal, no cerceamento de direitos, até chegar às vias de fato, que é o feminicídio.

Ainda de acordo com dados trazidos por Noele, mais de 1,7 mil mulheres foram assassinadas no Brasil no ano passado, resultando em um assassinato a cada uma hora e meia. Nesse mesmo ano, 80% das vítimas eram mães e seus filhos presenciaram o momento da violência. Noele explica que essas crianças e adolescentes são vítimas invisíveis das agressões contra as mulheres, que acabam por internalizar e sofrerem com as consequências físicas e psicológicas geradas por tais atitudes.

O debate sobre o tema será realizado também às 14h30, no auditório Julieta Passos, com Jaqueline Marques e Bruna Soares, psicóloga da Ouvidoria da Mulher, e às 19 horas, na Cinemateca, com o Juiz de Direito e membro da Coordenadoria Estadual da Mulher em Situação de Violência Doméstica Familiar, Vitor Umbelino; Dayane Almeida, psicóloga da Ouvidoria da Mulher; e Maria Clara Dunk, coordenadora da Ouvidoria da Mulher.

 


Professora Adriana dos Reis, pediu à comunidade acadêmica que repliquem a importância de combater esse tipo de violência para além dos muros da instituição de ensino

 

O evento foi proposto pelas Coordenações de Apoio Pedagógico ao Discente e pelo Núcleo de Acompanhamento de Pessoas com Necessidades Específicas (Napne) do Câmpus Goiânia, com o apoio de professores e servidores que tinham ligação com a aluna Ludmilla Flávia Marques e se inconformaram diante da fatalidade vivenciada pela comunidade acadêmica. “A perda de uma estudante, cheia de sonhos e potencial, vítima de um crime que destrói famílias, corrói a sociedade, que é o feminicídio. Este é um momento para transformar nossa indignação em esforço coletivo e é isso que esse evento quer promover, que a gente não se cale, que, a partir de uma instituição de ensino e de nós, enquanto coletivo, podermos fazer a diferença também fora do mundo da escola. Que a gente possa levar essa discussão para além desse espaço institucional”, disse a diretora do Câmpus Goiânia, professora Adriana dos Reis Ferreira.

Além da discussão, o evento foi um momento de prestar solidariedade e acolhimento à filha de Ludmilla, Yasmin Rebeca Marques, que também cursava Engenharia Ambiental e Sanitária no Câmpus Goiânia. Yasmin foi quem abriu as portas do IFG à Ludmilla, que acompanhava a filha diariamente de Goianira até o câmpus. Nas manhãs no pátio da instituição, Mila, como era conhecida, auxiliava a professora Gleice Sousa, responsável pela horta comunitária que ficava situada no local onde hoje está em construção o restaurante estudantil.



Yasmin Marques, filha de Ludmilla Flávia Marques, participou do evento


Em suas atividades na horta, Ludmilla se dedicava principalmente a cuidar das orquídeas que existiam no local, por ser sua planta preferida. Com o incentivo da professora Gleice e demais servidores, Ludmilla prestou o Enem e conseguiu ingressar no mesmo curso que a filha, apostando em ser uma Engenheira Ambiental. Durante sua homenagem póstuma, membros da CAPD levaram uma orquídea branca como símbolo da presença e resistência de Ludmilla, que ficará na memória de todos que a conheceram no Câmpus Goiânia.

 


Imagem retirada do vídeo institucional em que Ludmilla compartilhou sua história de crença na transformação de vida por meio da educação

 

Coordenação de Comunicação Social do Câmpus Goiânia

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