“O maior desafio hoje é encontrar o equilíbrio entre apoio especializado e estímulo à autonomia”, afirma pedagoga
Para além da gestão, um encontro de pessoas com grandes propósitos e em busca de emancipação de estudantes
A história de vida da pedagoga Rutiléia Maria de Lima Portes é uma prova de que é possível sim se emancipar, se destacar e conseguir atingir os objetivos de vida, mesmo tendo uma necessidade específica. Diagnosticada com baixa visão desde o nascimento, com uma doença degenerativa chamada Retinose Pigmentar, e com o quadro que a cada dia se agravou com a perda da visão, desde a infância, a pedagoga superou, ainda supera diversas barreiras e hoje tem muito a compartilhar. Além de um exemplo de vida, a servidora do Instituto Federal do Triângulo Mineiro (IFTM) também é professora, coordenadora e atualmente doutoranda, atuante como pesquisadora na linha de Tecnologias Assistivas. Ela abriu na manhã de hoje, 19, o II Encontro Técnico-formativo do Núcleo de Ações Inclusivas (NAI) e dos Núcleos de Atendimento às Pessoas com Necessidades Específicas (Napnes). O evento ocorreu durante todo o dia, na Cinemateca do Instituto Federal de Goiás (IFG) – Câmpus Goiânia.
Cerca de 95 pessoas se inscreveram para participar das discussões, entre servidores que atualmente compõem os Núcleos e demais interessados. O encontro tem por objetivo tratar de formação e gestão do NAI e dos NAPNEs presentes nos câmpus do IFG. Alguns ainda estão em processo de formação e outros já se consolidaram, segundo a coordenadora Pedagógica da Pró-reitoria de Ensino (Proen) e integrante do NAI, Ana Beatriz Machado de Freitas. Ela conta que os núcleos, há um ano em seu efetivo processo de consolidação, após as legislações que determinaram a criação deles, atendem aos estudantes com necessidades específicas que afetem o aprendizado. “Além disso, aqueles com superdotação, autismo, fora as demandas que chegam e que muitas vezes são de ordem psicológica, mas que a gente encaminha para as instâncias institucionais responsáveis”, afirma a professora. Ela se refere ao encontro justamente como um espaço para discutir as demandas que surgiram para os Núcleos atenderem nesse um ano, a forma de atuação, os desafios, como devem ser desenvolvidas as ações diante das demandas diversificadas.
Sobre o mapeamento de discentes com necessidades específicas no IFG, Ana Beatriz explica que na Proen a equipe recebe os relatórios e está fazendo esta pesquisa, mas que em todas as 14 unidades há pessoas com necessidades específicas. No Câmpus Itumbiara, por exemplo, há registro de 20 estudantes nessa condição, mas um estudo de avaliação ainda está sendo realizado para saber se todos se enquadram no atendimento que o NAPNE deve fazer.
Nessa direção, a pró-reitora de Ensino, Oneida Barcelos Irigon, relembra a constituição do NAI como espaço com participação de servidores da Instituição e também de pessoas externas, considerada por ela como algo fundamental para o avanço das ações. “Hoje, após um ano, mesmo com todos os problemas e situações de dificuldade, estamos conseguindo avançar. É perceptível a questão do desafio para a Rede Federal, para estados e municípios. É um processo que aos poucos vamos conseguir avançar na sua totalidade. O desafio é o apoio especializado. Temos lutado por isso, ano passado nenhum instituto conseguiu contratar. Junto ao Conif, com nosso reitor, professor Jerônimo, temos debatido e fazendo os contatos para que possamos ter esse apoio. Caso não consigamos, teremos que criar alternativas”, diz. A pró-reitora ressalta ainda que esse processo de constituição dos núcleos surgiu como uma demanda por meio da legislação, mas que para além disso, o IFG precisa dar conta de atender a missão de trabalho que a Instituição tem a fazer, que é como diz o lema da campanha institucional nessa área de inclusão e acessibilidade: “IFG para Todos”.
História de Vida
A história de luta da pedagoga Rutiléia Maria de Lima é um incentivo para famílias e cidadãos que possuem ou que estão em contato direto com pessoas com necessidades específicas. A maior inspiração dela e a grande motivação da sua vida e do irmão, que também possui a mesma doença ocular e que perdeu a visão mais cedo que ela, é a mãe. “Viciada em livros”, como conta a professora, a mãe fez com que o lar fosse repleto de práticas de letramento ao longo da vida dos dois irmãos. Eles passaram um tempo na Apae, no início dos anos 1990, quando decidiram por conta própria ir para uma escola regular. “O médico disse que a gente era incapaz de frequentar uma escola regular. Fomos e de lá nós nunca mais saímos”, afirma. Ela ressalta que as discussões de políticas e ações públicas em torno da acessibilidade e inclusão no ensino fundamental avançaram já nos 2000, quando ela e o irmão conseguiram concluir o ensino fundamental, sem reprovação, e com total apoio da mãe.
Além de toda a situação posta, Rutiléia ainda ajudava o irmão a ler, pois a dificuldade dele era maior. “Quando eu tinha visão suficiente, até final do ensino médio, eu conseguia ler. Eu ajudava meu irmão, pois ele tinha visão mais reduzida que a minha. Foi muito difícil esse período, queria estudar pro vestibular, continuar a vida acadêmica. E como eu não queria depender de ninguém, não queria que ninguém lesse pra mim, descobri as tecnologias assistivas. Na universidade, em Uberlândia, no curso de Pedagogia, não existia essa divisão de quem lia e quem não lia, como eu”, diz.
O meio e a força para que conseguisse chegar até aqui, na visão de Rutiléia, foi o sentimento de que ela se identifica com qualquer outra pessoa. “Eu não me identifico como deficiente, pois não é uma limitação sensorial ou física que me caracteriza como deficiente, mas as minhas relações, como eu me posiciono, como eu me coloco, como as pessoas me enxergam. Hoje, trago enfoque não só no que podemos oferecer a esses alunos, mas o que podemos oferecer para que esses alunos possam oferecer para eles mesmos. Temos que criar mecanismos de falar pra esses alunos que eles também precisam fazer algo por eles, se comportar como qualquer outro aluno, sujeito a qualquer tipo de cumprimento de dever, sujeito a qualquer ato disciplinar dentro da escola e não tratá-lo como uma pessoa especial. Ele tem limitação que conduz para algo que ele necessita e que é especializado. Vamos continuar com a divisão enquanto a gente não começar a tratá-las sem a caracterização de especial. É encarar essa inclusão como sendo de todos. Não só o NAI ou NAPNE que precisam e empenhar, são todos, professores, servidores, seja quem for da Instituição”, defende.
Para mais informações sobre o assunto, acesse a página de Inclusão/Acessibilidade do IFG. Informações também pelo telefone: (62) 3612-2229 ou no e-mail: nai.proen@ifg.edu.br.
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