Projeto de ensino promove incentivo à leitura e à crítica social por meio da Literatura Infantil Ilustrada
Os resultados positivos do projeto "Lendo Juntos" são confirmados por professores e alunos de nível médio e superior que integram o trabalho
A compreensão crítica do percurso de formação do leitor e o estímulo a novas leituras são alguns dos muitos benefícios que estão sendo vivenciados pelos integrantes do projeto de ensino Lendo Juntos, em desenvolvimento no Câmpus Aparecida de Goiânia do Instituto Federal de Goiás (IFG) neste semestre. Com a participação de 38 estudantes do ensino médio técnico (incluindo as modalidades em tempo integral e Educação de Jovens e Adultos – EJA) e do curso de Licenciatura em Pedagogia Bilíngue, cinco docentes e uma servidora técnico-administrativa, o projeto proporcionou a formação de um espaço coletivo de leitura que se vale das potencialidades da literatura infantil ilustrada para analisar criticamente discursos e imagens sociais.
Popularmente denominado Lendo Juntos, o projeto de ensino Práticas de leitura e mecanismos de subjetivação: a leitura coletiva de literatura infantil ilustrada como lugar de investigação dos discursos sociais foi aprovado pelo edital 13/2021/PROEN/IFG e está sendo desenvolvido em encontros virtuais semanais desde o mês de agosto. O grupo inicia em novembro a leitura compartilhada da quarta obra, tendo a meta de estudar seis livros até dezembro. Os títulos são escolhidos conjuntamente a partir de 30 livros pré-selecionados, com as temáticas de gênero, diversidade, relações étnico-raciais, afetividades e leitura.
Com um perfil na rede social Instagram, o projeto viabiliza também a prática de escrita, reflexão e interação do grupo com os internautas sobre as obras propostas e estudadas e sobre literatura infantil. A prática de escrita também será realizada no final dos trabalhos, quando os estudantes participantes vão produzir um relato de experiência. A coordenadora do projeto, professora Josiane dos Santos Lima, considera que ele tem superado as expectativas, sobretudo pelo engajamento do grupo e pelas trocas que estão sendo realizadas. Josiane fala da expectativa de ampliar o trabalho a mais pessoas: “Tem sido uma experiência muito boa, cheia de aprendizado e estimulante. A percepção positiva já nos motivou a pensar não apenas em uma segunda edição, como levar algo para o trabalho de Extensão”.
Também integrante do projeto, o professor Alexssandro Ribeiro Moura destaca que as leituras colaborativas têm sido leves e amplas ao mesmo tempo. Ele acrescenta que a união de estudantes das três modalidades de ensino – EJA, EMI e Ensino Superior – torna o projeto muito dialógico e abrangente. “Os resultados podem ser vistos na postura das alunas e dos alunos, que, pelos relatos e práticas, têm se interessado cada vez mais em mergulhar nesse mundo de imaginação e criatividade que a literatura infantil ilustrada nos proporciona”, afirma o professor.
Transformação
Manifestações de estudantes participantes confirmam a declaração do professor Alexssandro. Os relatos apontam variados motivos para descrever a experiência positiva de integrar o projeto. Meide Pereira de Miranda Borges, aluna do 3º período do curso Técnico em Alimentos – EJA, conta que não tinha o hábito da leitura, o que está mudando. “Estou vencendo meus medos e minha dificuldade na leitura”, diz. Para Meide, cada livro tem sido uma experiência para a vida: “Todos nós podemos contar nossas histórias”. Sua colega de turma, Gislanya Talia Nunes Alves também sente a mudança. Ela diz que não tinha muito interesse por literatura infantil, mas que a participação no projeto “está sendo uma experiência transformadora”, tanto pela leitura como pelas postagens e interação nas redes sociais. “Pude aprender muito sobre escrita e também sobre edição”, afirmou Gislanya.
Caloura do curso técnico em Alimentos na modalidade EJA, Marcilene Rodrigues Nogueira descreve a participação no projeto Lendo Juntos como “incrível”. Ela fala que não tinha muita paciência para ler um livro, mas agora consegue desfrutar as obras “imaginando o final”. Para Marcilene, o principal benefício que está tirando dos encontros, é o incentivo a ler mais.
O incentivo a ler mais também está sendo vivenciado por estudantes que já possuíam o hábito da leitura. É o caso de Karina de Jesus Souza, aluna do curso Técnico Integrado em Alimentos em período integral. Ela relata que sempre amou ler, principalmente aventura e romance, mas que tem lido mais agora do que antes. Até começou a comprar livros, coisa que antes não costumava fazer. A estudante diz que passou a refletir muito sobre as pessoas terem diferentes formas de pensar e sobre o fato de que todos têm suas próprias histórias e jornadas de vida. “Estar fazendo uma leitura coletiva ao lado de pessoas que têm suas próprias histórias e motivos para gostar de ler é incrível, a imaginação flui de uma ótima forma”, diz.
Para as estudantes Karla Katiuska Batista Santos e Vitória Pereira de Souza, ambas do curso de Licenciatura em Pedagogia Bilíngue, a participação no projeto Lendo Juntos está sendo de muito aprendizado. Karla diz que o projeto está lhe possibilitando perceber as nuances da literatura infantil e sua subjetividade e ela vê como principais benefícios o estímulo à leitura, o conhecimento de novas obras literárias e de como analisar uma obra a ser lida com crianças. Vitória, por sua vez, diz estar aprendendo uma nova forma de ler, o que ela está desenvolvendo consigo própria e também com sua filha, “explorando as imagens e interpretando-as”, conforme afirmou.
Quebrando barreiras
Os participantes do projeto Lendo Juntos já tiveram a oportunidade de dialogar com autores de duas das obras lidas, com um detalhe: em línguas diferentes do Português. O primeiro deles foi o escritor surdo Fabiano Souto Rosa, um dos autores de Patinho Surdo, com quem os estudantes conversaram em Libras. (Mais informações sobre a obra na matéria sobre comemorações do Setembro Azul no IFG Aparecida de Goiânia). Depois, com a escritora e ilustradora canadense Lili Chartrand, autora do livro O monstro que adorava ler e com quem alguns membros do Lendo Juntos interagiram pelo Instagram em Inglês. O diálogo com Fabiano Rosa deu-se em um encontro planejado, já com Lili Chartrand aconteceu de forma casual.
O primeiro contato com Lili Chartrand foi feito pela própria autora, que curtiu e comentou com corações uma postagem feita sobre seu livro no perfil @Lend0Junt0s. A partir daí, incentivadas pelo professor Thiago Cardoso Aguiar e com ajuda do aplicativo Google Tradutor, aconteceu a conversa. O processo teve uma barreira inicial, que foi rapidamente rompida: “Primeiro perder o medo de escrever e depois perder o medo de escrever em outra língua. Uma parte das alunas escreveu, mas, no grupo, foi aquele alvoroço. Todo mundo ficou muito animado, muito feliz e foi bem legal”, relata o professor.
Thiago Aguiar comenta que os ganhos do grupo pela interação com autores são enormes, tanto no sentido de conhecer as motivações de uma história, seu processo de produção e a relação da experiência de vida do autor com essa produção, como também pelo fato de essa interação ter ocorrido em línguas diferentes. Ele destaca a composição heterogênea do grupo e relata que as experiências foram muito ricas para o projeto e para o IFG Aparecida de Goiânia: “Nós temos um curso bilíngue de maioria ouvinte e a gente não exige que o aluno saiba língua de sinais pra entrar, então quanto mais incentivo tiver pro aluno interagir com pessoas que usam a língua de sinais, melhor para os nossos alunos, os ganhos são enormes. A mesma coisa com a autora canadense. No início, as alunas estavam com receio de interagir por ser em outra língua, a gente incentivou e as alunas foram, usaram o google tradutor, fizeram com o pouquinho que sabiam (...) tinham licença poética, digamos assim, pra errar (risos). E foi muito bom, a interação foi ótima”, conta Thiago.
A interação dos estudantes com autores é comentada como muito positiva também pelo professor Alexssandro Ribeiro Moura. Ele avalia que, ao dialogarem em Inglês com a autora de O Monstro que Adorava Ler, os estudantes sentiram-se valorizados e “perceberam que a leitura literária pode nos fazer, de fato, viajar por lugares desconhecidos e conhecer algo novo”, afirmou.
A pedagoga Maria Etevalda Batista da Silva, que é coordenadora de Apoio Pedagógico ao Discente do IFG – Câmpus Aparecida de Goiânia, observa que os participantes do projeto têm sido assíduos e participativos nas atividades propostas. Maria Etevalda avalia que o Lendo Juntos possibilitou que seus participantes alcançassem um patamar de leitura que ela considera incomum. “Num momento em que a leitura “por alto” se tornou corriqueira, experimentamos no projeto uma leitura reflexiva e profunda contrastando com um gênero textual sem escrita volumosa ou rebuscada. Tenho certeza de que essa experiência marcará muito positivamente todos os envolvidos”, diz.
Multiplicadores de leitura
Do início das atividades do projeto em agosto até o início de novembro, o grupo já havia lido e discutido as obras Patinho Surdo (Fabiano Souto Rosa / Lodenir Karnopp), Todas as Pessoas Contam (Kristin Roskifte) e O monstro que adorava ler (Lili Chartrand). A análise passa pelo conteúdo da história, as imagens utilizadas e reflexões que surgem no grupo no decorrer dos debates. No momento, os integrantes do projeto estão lendo outros títulos e vão escolher um, por votação, para ser o próximo objeto de análise.
Conforme a proposta aprovada em edital, o projeto Lendo Juntos não é um trabalho de caráter literário, mas tem nas obras literárias seu ponto de partida e objeto de análise da materialização dos discursos sociais. Os organizadores do trabalho consideram que está sendo cumprido o objetivo de “gerar possibilidades para formação de uma comunidade de leitores e multiplicadores de leitura”.
Integram o projeto Lendo Juntos:
Coordenadora
Josiane dos Santos Lima (Língua portuguesa e Literatura)
Colaboradores
Alexssandro Ribeiro Moura (Língua portuguesa e Literatura)
Joana Cristina Neves de Menezes Faria (Ciências Biológicas)
Maria Etevalda Batista da Silva (Pedagogia)
Thiago Cardoso Aguiar (Língua Brasileira de Sinais)
Waleria Batista da Silva Vaz Mendes (Língua Brasileira de Sinais)
Estudantes bolsistas
Gislanya Talia Nunes Alves (curso Técnico em Alimentos – EJA)
Jaine Cruz Ferreira (curso Técnico em Alimentos - EJA)
Meide Pereira de Miranda Borges (curso Técnico em Alimentos - EJA)
Marcilene Rodrigues Nogueira (curso Técnico em Alimentos - EJA)
Karina de Jesus Souza (curso Técnico em Alimentos - integral)
Vitoria Pereira de Souza (Licenciatura em Pedagogia Bilíngue)
Estudante voluntária
Araíde Maria Guedes (curso Técnico em Alimentos - EJA)
Outros
O projeto é integrado ainda por outros 30 estudantes que embora não estejam incluídos formalmente pelo edital 13/2021/PROEN/IFG, participam de todas as leituras, discussões e demais atividades propostas
* O projeto de ensino “Práticas de leitura e mecanismos de subjetivação: a leitura coletiva de literatura infantil ilustrada como lugar de investigação dos discursos sociais” é vinculado ao Núcleo de Estudos de Educação e Linguagem (NEEL) do IFG Aparecida de Goiânia
Coordenação de Comunicação Social e Eventos / Câmpus Aparecida de Goiânia
Redes Sociais