Ação do Câmpus Goiânia utiliza a magia da literatura para acolher crianças haitianas
Projeto de Ensino atende menores, entre 0 e 14 anos, de famílias refugiadas
Projeto de ensino do Câmpus Goiânia do Instituto Federal de Goiás (IFG) promove acolhimento e ensino da língua portuguesa a crianças refugiadas haitianas. Intitulada Abracadabra! Acolhendo crianças em situação de refúgio pela magia da arte de contar/ouvir histórias, a ação utiliza o aspecto lúdico da literatura infantil para se aproximar e se conectar a esse público, que atualmente encontra-se no Jardim Guanabara, na Capital, e no bairro Expansul, em Aparecida de Goiânia. Cerca de 30 crianças, entre 0 a 14 anos, participam das sessões de contação de histórias, algumas, especialmente os bebês, acompanhadas pelos pais.
A iniciativa surgiu como desdobramento dos projetos de extensão do Câmpus Goiânia que atendem a população haitiana na Capital, como Ensino de português para imigrantes em situação de vulnerabilidade: uma ação humanística, realizado entre os anos de 2017 e 2018; Acolher, ensinar e aprender: português para imigrantes em situação de vulnerabilidade, praticado no ano de 2019; e o Movimentos migratórios em V: português para falantes de outras línguas, realizado entre 2020 e 2022, todos coordenados pela professora Suelene Vaz. “Quando esses projetos finalizaram, eu passei a ir até a comunidade levando literatura para elas no ambiente em que vivem em uma parceria com a Igreja Metodista Haitiana. Neste ano, submeti esse trabalho a um edital da Pró-Reitoria de Ensino do IFG”, conta a professora Micheline Lage, coordenadora do projeto.
Com isso, a ação foi contemplada com recursos para pagamento de bolsas às estudantes participantes pela Chamada nº 25/2023 da Pró-Reitoria de Ensino do IFG. A ideia é envolver estudantes do curso de Licenciatura em Letras - Língua Portuguesa à comunidade externa, tendo em vista que, futuramente, atuarão enquanto professores. As discentes Catarina Fernanda Moraes (7º período), Jeilsa Pires Portela de Souza (2º período) atuam como bolsistas e contam com as colegas de curso, Sara Clara de Magalhães e Michele Damaceno Araújo, ambas do 2º período da Licenciatura em Letras do Câmpus Goiânia.
As leituras ganham ainda mais magia com o uso da música, da dança e da performance teatral
As atividades do projeto ocorrem quinzenalmente, aos domingos, na Escola Municipal Camila Scaliz, entre as 9h e as 11 horas. O local foi cedido pela direção da unidade da rede municipal de ensino para que as atividades do projeto fossem realizadas. “A diretora, Sra. Ileuza foi super solícita conosco nos oferecendo até mesmo a possibilidade de termos uma cópia da chave do portão principal da escola”, conta Micheline Lage. O horário coincide com o culto que é frequentado pelos pais e familiares das crianças, na Igreja Metodista Haitiana.
Durante os encontros, a professora, acompanhada das alunas de Licenciatura em Letras - Língua Portuguesa do Câmpus Goiânia, realizam atividades de contação de histórias com o intuito de ampliar o repertório das crianças sobre a cultura brasileira, o que inclui também o contato com a língua portuguesa. “No momento, os pais falam da necessidade das crianças maiores aprenderem o português. Temos crianças que chegaram há 4 meses no Brasil. Elas falam "créole" (crioulo haitiano) e também francês. São matriculadas normalmente nas escolas brasileiras, pois os haitianos têm visto humanitário. E aí as dificuldades surgem, pela barreira da língua e das diferenças culturais. Os pais gostam do projeto, pois sabem que ele pode ajudar e, muito, nesse processo de adaptação no novo país. Algumas crianças nasceram aqui. Elas falam português, mas os pais também apreciam o fato de elas estarem com a gente, porque aprendem aspectos importantes de nossa cultura e isso as auxilia em todos os sentidos”, explica a docente.
As histórias tratam de aspectos culturais brasileiros, havendo também a troca e espaço para que as crianças relatem sobre contos, músicas e experiências relacionadas à cultura haitiana
Para isso, elas utilizam brincadeiras, jogos, música, dança e outras manifestações artísticas. As obras a serem trabalhadas no projeto são discutidas e selecionadas pelas estudantes e docente. “Fazemos pesquisa no acervo de nossas bibliotecas, eu levo livros que tenho, as alunas fazem proposições etc. Buscamos temas que de algum modo se entrelaçam à cultura haitiana. Também mostramos às crianças que no Brasil há uma diversidade de pessoas, é um país multicultural. Levamos, por exemplo, uma obra com fotografias artísticas de várias crianças indígenas do Brasil e também lendas indígenas para que elas entendam que não vivemos em um país homogêneo”, comenta Micheline Lage.
O projeto prevê também o protagonismo das crianças haitinas, que têm espaço para também contar suas histórias, falar das suas origens e culturas. “No último encontro, por exemplo, uma menina de 14 anos quis cantar para a gente uma música do estilo Kompa Love, que está muito em voga no Haiti. Também já quiseram cantar o hino do Haiti para a gente. Já teve uma menina que disse estar triste, pois era aniversário da avó, e essa avozinha não tinha vindo para o Brasil junto à família”, relata a docente.
Atividades são realizadas quinzenalmente aos domingos, enquanto os familiares das crianças participam do culto da Igreja Metodista Haitiana
As atividades foram iniciadas neste segundo semestre de 2023 e mesmo com o curto espaço de tempo, as crianças já demonstram o que aprenderam nos encontros com as alunas e professora do Câmpus Goiânia do IFG. Micheline afirma que é possível notar a evolução delas de um encontro para outro, principalmente no que tange à leitura e ao entendimento da língua portuguesa. Para a professora, a literatura é um fator de humanização, por meio da qual é possível se perceber enquanto um ser humano que chora, ri, que se emociona, capaz de enxergar as diferenças e semelhanças com os demais. “As histórias também têm sempre pontos de contato cultural entre um país e outro e enxergar isso é muito bom. O projeto acolhe as crianças, mas acredito que faz um bem maior ainda a nós! Ficamos mais sensíveis às desigualdades sociais, às injustiças, ao tema da migração, que tende a se acentuar cada vez mais em um mundo pós-pandêmico e assolado por guerras e pela crise climática”, finaliza.
O projeto será encerrado no dia 10 de dezembro, momento em que a equipe pretende realizar uma festa com as crianças atendidas. Para isso, solicita doações de brinquedos educativos, livros infantis de literatura brasileira e roupas. A arrecadação ocorre no Departamento de Áreas Acadêmicas 1 do Câmpus Goiânia, local onde está disponível uma caixa para armazenar as doações. A comunidade disposta a colaborar pode procurar o local de segunda à sexta, das 8h às 18 horas.
Coordenação de Comunicação Social do Câmpus Goiânia
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